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11 ANIMAÇÕES PSICODÉLICAS PARA CURTIR A BRISA

Dicas & Guias

Desenhos e animações psicodélicas das mais variadas piras estão na jogada há muito tempo, seja em livros, revistas ou filmes que enlaçam o espectador e o convidam a desbravar universos impensados no mundo real. A seguir, apresentamos uma lista com 11 animações psicodélicas pra ver e rever, e embarcar numa trip alucinante sem ter que sair de casa.  
Senhoras e senhores passageiros, recomendamos que desliguem as conexões com o mundo real neste momento. Para maratonar esses tesouros da psicodelia, sugerimos a entrega total à lisergia em brisas, sons e cores contidas em cada uma das obras a seguir. Boa viagem a todos.

1. O Ladrão e o Sapateiro (anos 60)

Duração: 01h40’

Nada mais justo do que começar falando de clássicos mais antigos que desbravaram o caminho das animações psicodélicas com muita ousadia e criatividade. Em The Thief and the Cobbler, título original de O Ladrão e o Sapateiro, uma profecia se torna real quando um ladrão rouba objetos preciosos da Cidade Dourada, libertando forças malignas que passam a dominar a região. Para salvar os habitantes da cidade, um humilde sapateiro embarca numa aventura na companhia de uma princesa e um ajudante.

O enredo pode parecer simples, mas a complexidade das animações e efeitos visuais eram bem pra frente para a época em que a obra começou a ser produzida, lá nos anos 60, pelo brilhante Richard Williams. A produção independente e o orçamento apertado resultaram em mais de três décadas até que o trabalho fosse concluído e finalmente lançado na África do Sul, em 1993.

Na verdade, nem o nome oficial em inglês ou suas traduções são títulos comumente lembrados pelo público de primeira; os personagens e toda a trama de The Thief and the Cobbler se popularizaram mais na variação do filme que surgiu dois anos depois de seu lançamento oficial, chamada  Arabian Knight (O Cavaleiro das Arábias), da Miramax Films. Essa é a explicação pra quem não recorda ter assistido O Ladrão e o Sapateiro, mas acha que já viu esses desenhos em algum lugar. 

O filme é considerado uma obra prima pelas animações quase inconcebíveis naquele tempo. Houve uma cena de 20 segundos, por exemplo, que custou a Williams quase um ano de dedicação, talvez numa mistura de dificuldades técnicas, procrastinação e perfeccionismo.

Curiosidade musical à vista: o dublador de Zigzag, um dos personagens principais, é Vincent Price, nome que talvez não soe tão familiar, mas que você já viu e ouviu inúmeras vezes – é ele o ator que interpreta o inventor velhinho no filme Edward Mãos de Tesoura, de Tim Burton, e é dele também a voz macabra que narra o trecho final e a risada sinistra em Thriller, de Michael Jackson.

2. Heavy Metal – Universo em Fantasia (1982)

Duração: 01h26’

Um baita clássico cult oitentista. Com roteiro dos canadenses Daniel Goldberg e Len Blum, e direção de Gerald Potterton, Heavy Metal é uma compilação de histórias de fantasia e ficção científica que mostram batalhas entre o bem mal tiradas da revista em quadrinhos de mesmo nome do filme.

A versão impressa é originalmente francesa (Métal Hurlant), mas foi Leonard Mogel – um dos produtores do longa – que descobriu a revista nos anos 70 e deu vida à versão americana, uma revistinha de tiragem mensal, feita em papel especial e coloridíssima. Seguindo a mesma brisa da história em papel, a animação tem boas doses de violência gráfica, nudez e sexualidade. Outro detalhe legal é que na trilha sonora aparece o som de uma galera do rock pesado – tem o Dio do Black Sabbath, o Don Felder do Eagles, Sammy Hagar do Van Halen, Nazareth e mais. 

Quase duas décadas depois surgiu uma sequência da animação, chamada Heavy Metal 2000. Mais recentemente, durante uma edição da Comic-Con em 2011, o diretor Robert Rodriguez disse que adquiriu os direitos do filme e que pretendia realizar mais uma continuação.

3. Pink Floyd – The Wall (1982)

Duração: 01h35’

Falar em Pink Floyd remete automaticamente a ideias e lembranças de viagens alucinantes – e alucinógenas. Foi com a pegada de rock psicodélico, composições longas e sons experimentais que o grupo britânico conquistou seguidores e se tornou um dos mais influentes na história do rock. 

Além do filme dirigido por Alan Parker, The Wall é também o nome do 11º álbum da banda, que serviu de inspiração para a versão cinematográfica. O drama musical é um combo de crítica social com psicodelia, algo muito comum nos assuntos abordados pelo Pink Floyd e principalmente por Roger Waters, ex-integrante e artista conhecido por agregar ao seu trabalho duras críticas sociais até os dias de hoje. Resumidamente, The Wall discorre a questão do abandono e isolamento pessoal/social, usando como metáfora o termo the wall (a parede/ o muro, em inglês). 

Quer intensificar a doideira com o Pink Floyd? Busque na internet por The Dark Side of the Rainbow. É a junção de O Mágico de Oz com The Dark Side of the Moon, um dos discos mais famosos do Floyd. Alguém provavelmente muito brisado descobriu que a sincronia do álbum com este clássico do cinema era quase perfeita, fazendo qualquer um duvidar que a banda não tenha produzido a obra propositalmente em harmonia com o filme. Em festivais de cultura alternativa, não é surpresa encontrar na agenda de atividades paralelas um horário reservado para a reprodução de Oz com Pink Floyd – a galera se amontoa no gramado e embarca na trip sem medo de ser feliz.

4. Alice no País das Maravilhas (1951)

Duração: 01h

Uma garota cai na toca do coelho e inicia uma aventura maluca. Docinhos, bebidas e quitutes aparecem ao longo do caminho e, quando consumidos, transformam algo nos personagens ou na realidade dos ambientes. Às vezes as cenas de Alice no País das Maravilhas parecem momentos da vida real

Alice pode ser considerado o clássico dos clássicos. A obra oficial é na verdade de 1865, imaginada e escrita por Lewis Carroll, escritor com declarações polêmicas, mas inegavelmente um gênio dos devaneios. O livro inspirou várias adaptações cinematográficas e televisivas, porém os originais e mais conhecidos são a animação Alice in Wonderland da década de 50, e o de 2010 de Tim Burton. 

Cada personagem é um mar de psicodelia nonsense – tem o chapeleiro com uns parafusos a menos, um coelho que fala e uma lagarta que fuma narguilé em cima de um cogumelo. Mas talvez o personagem mais maluco da história seja o que estava do lado de fora, já que para inventar particularidades tão fora da casa assim, o próprio Carrol deveria carregar uma boa dose de insanidade.  

Apesar do autor ter negado toda a vida que a psicodelia em Alice tenha sido proposital, as evidências são bem explícitas e fica difícil acreditar que não passou de mera coincidência. O conto de Lewis é cheio de ambiguidades, charadas e enigmas, que, sem dúvida, se intensificam ainda mais quando há a oportunidade de se curtir a animação chapado. Alguns grupos ligados à Trance music praticamente adotaram Alice no País das Maravilhas como o símbolo maior da lisergia que envolve o rolê da música eletrônica.

5. Fantasia (1940)

Duração: 02h

Antes de qualquer coisa, essa é uma boa hora pra enfatizar a importância que a música exerce em qualquer produção cinematográfica – já imaginou se seus filmes prediletos teriam a mesma graça no mudo? E este papel fundamental da trilha sonora foi levado muito à sério por Walt Disney quando arquitetou Fantasia, a primeira – e talvez única – produção diferentona da marca americana em todos esses anos de história com animação. 

Se dissermos que você já ouviu “Danse de la Fée-Dragée” (Dança da Fada Açucarada), de primeira, talvez você diga que não, pelo nome chique em francês, mas são grandes as chances de já tê-la escutado. Essa música é uma das mais famosas de Tchaikovsky, compositor russo de música clássica, e é parte de um dos ballets mais conhecidos do mundo, “O Quebra-Nozes”. E é o toque delicado e furtivo da “Fada Açucarada” que abre as primeiras cenas animadas desta masterpiece da Disney, pois Fantasia quebrou o tradicionalismo da companhia e surgiu com uma coletânea de curtas animados sincronizados com famosas peças de música clássica

Walter queria mais que um desenho animado – planejou a obra de uma forma que a animação e a trilha sonora tivessem a mesma importância. Para isso, fechou uma parceria com um famoso regente da época, Leopold Stokowski, e juntos escolheram várias peças clássicas para cada parte do filme. 

Não satisfeito, o multi-criativo Walt Disney deu a missão aos engenheiros de áudio da companhia para que desenvolvessem um sistema que transmitisse o som de cada instrumento gravado da orquestra de forma logicamente programada em diferentes pontos das salas de cinema – foi chamado de “Fantasound” e tinha exatamente a mesma função que os sistemas surround que conhecemos hoje.

Na época do lançamento o filme não foi sucesso de bilheteria e os planos de Walt foram parcialmente por água abaixo. Porém, em 1970 a Disney colocou Fantasia na jogada de novo, dessa vez com um marketing de peso, focado no movimento hippie e lisérgico da época (dizem que tem até um pôster oficial desse relançamento que brilhava no escuro), impulsionando os jovens a descobrir que era um barato assistir ao desenho daquele jeito, dando ao filme o sucesso merecido. Walter Disney morreu em 66 e pôde prestigiar a justiça à sua arte de outra dimensão.

6. Yellow Submarine (1968)

Duração: 01h30’

“We all live in a yellow submarine, yellow submarine, yellow submarine…”

Basta ser um apreciador mediano de Beatles pra que o refrão de Yellow Submarine ecoe na cabeça ao se deparar com este subtítulo. Anos 60, Beatlemania e uma maré de psicodelia que começava a brilhar em vários países. Que trip! 

“Pepperland é um paraíso quase terrestre que fica a 80 mil léguas no fundo do mar, onde a brisa leva a toda parte o som da música e das risadas, e onde ninguém sente-se só, pois a Banda do Sargento Pepper está sempre tocando sua música”. Este parágrafo descreve bem a sensação vivida nas pistas de música eletrônica de algum festival alternativo por aí, mas neste caso é o resumo de Yellow Submarine, de 1968 e direção de George Dunning.

A produção é inspirada em músicas da banda britânica, principalmente na faixa de mesmo nome, lançada no álbum “Revolver”, dois anos antes do filme. Yellow Submarine era parte de um contrato cinematográfico que o grupo tinha que cumprir, e sem empolgação alguma dos integrantes pra atuar num filme em meio a tantos compromissos com a carreira musical, a solução foi fazer uma animação. 

Para a sorte dos fãs de Ringo, Paul, George e John, uma versão restaurada em 4K voltou às salas de cinema em algumas sessões especiais em 2018, em lugares como Estados Unidos, Inglaterra e Irlanda, proporcionando à geral uma hora e meia de pura viagem.

7. Paprika (2006)

Duração: 01h30’

Papurika, como é o nome original, é uma animação japonesa de Satoshi Kon, baseada no livro de mesmo nome, do autor Yasutaka Tsutsui. A história é sobre um aparelho que permite que médicos entrem nos sonhos de seus pacientes para fins terapêuticos, mas o gadget ainda não está em sua versão final, e sem um sistema de segurança contra o uso indevido do equipamento, muita coisa louca acontece numa viagem tensa e surreal

A animação feita pela Madhouse retrata de forma admirável medos, ansiedades e desejos dos personagens em meio a cenários incríveis. Há relatos de que o filme se assemelha muito à uma viagem lisérgica desencadeada por LSD. Bom, é o que dizem… 

Vencedor de prêmios de alguns festivais de cinema de menor porte, Paprika figura uma discussão sobre ter sido inspirado ou servido de inspiração para o filme Inception (A Origem), pela semelhança no enredo. A animação japonesa é de 2006 e Inception foi às telinhas somente em 2010, mas na real a concepção de A Origem foi lá em 2001, quando Christopher Nolan escreveu um tratamento sobre ladrões de sonho. A dúvida permanece.

Além da brisa fortíssima que dá pra extrair do desenho, a trilha sonora de Susumu Hirasawa também tem algo de especial – foi a primeira a usar o Vocaloid em várias faixas, um software que permite a síntese de vozes através da digitação. A melodia é feita com  vozes de cantores e/ou atores vocais previamente gravadas, e o software permite alterações na velocidade das pronúncias, tom de voz e até efeitos como vibrato. O Vocaloid já foi descrito como “um cantor em uma caixa”, podendo substituir um cantor real (psicodélico e polêmico).

8. A Viagem de Chihiro (2001)

Duração: 02h

A Viagem de Chihiro (Spirited Away) é um presente do diretor Hayao Miyazaki aos apreciadores de animações estilo japonesas. A menina Chihiro se perde dos pais numa viagem até a casa nova da família e vai parar no mundo dos espíritos. Dali pra frente, ela vive uma dura jornada para libertar a si e sua família de forças do mal. 

A saga é retratada através de animações de altíssima qualidade, feitas pelo Studio Ghibli, um dos mais bem conceituados estúdios de animação do Japão, do qual Miyazaki é co-fundador. Os personagens e ambiências têm características complexas e únicas a cada instante do filme, favorecendo ótimas avaliações de críticos da sétima arte.

Considerado um dos melhores filmes dos anos 2000, A Viagem de Chihiro rendeu a Miyazaki um Oscar de Melhor Filme de Animação e o Prêmio de Melhor Filme do Ano pela Academia Japonesa. Foi tão aclamado que chegou a ser citado como a versão oriental de Alice no País das Maravilhas.

9. Rick and Morty (2013)

4 temporadas – duração média por episódio: 20’

A série animada voltada ao público adulto surgiu de uma paródia do clássico De Volta Para o Futuro, mas o conjunto da obra se mostrou tão inteligente e bem recebido pelos telespectadores que já tem a 5ª temporada prevista ainda para 2020 e promete seguir adiante.

O enredo circunda a vida de Rick Sanchez, um cientista alcoólatra, e seu neto Morty, que divide seu tempo entre a vida familiar e viagens interdimensionais (quem não, né?). A dupla passa por várias aventuras juntos, mas que estão longe de ser passeios tediosos em parques da cidade – as viagens são literalmente em dimensões paralelas, que são apresentadas de forma muito colorida e engraçada. 

Os criadores Justin Roiland e Dan Harmon fizeram algo tão inteligente que a série consegue trabalhar o tema da existência de mundos paralelos e o sentido da vida de forma ao mesmo tempo profunda porém fácil de ser consumida.

10. SOUND & FURY (2019)

Duração: 41’

Sturgill Simpson presentes SOUND & FURY é um animê do músico norte-americano Sturgill Simpson. É uma espécie de audiovisual do último álbum do cantor, só que com a presença e narrativa de personagens samurais, robôs e cyberpunks num cenário pós-apocalíptico.  

O trabalho Sound & Fury lançado por Simpson em 2019 foi um marco transitório do estilo do compositor, que deixou um pouco as raízes do country rock para abraçar algo mais voltado ao rock psicodélico, por exemplo. O álbum ficou entre os 50 melhores daquele ano nos rankings da Billboard e Rolling Stones. 

A animação distópica lançada pela Netflix foi feita em parceria com os diretores japoneses Junpei Mizusaki e Koji Morimoto e com o americano com pé-no-Japão, Michael Arias. A arte oriental sempre dando seu toque mágico nos desenhos animados.

11. The Midnight Gospel (2020)

1 temporada – duração média por episódio:  25’

Quando The Midnight Gospel foi ao ar no começo de 2020, todo mundo que curte brisar em frente às telinhas (e fora delas também) ficou sabendo e ajudou a espalhar a notícia. O momento de isolamento social mais brutal da pandemia deu as boas-vindas à uma produção incrível, questionadora, colorida e viajada

Os pais da série, Duncan Trussell e Pendleton Ward, são os mesmos criadores de Hora de Aventura (Adventure Time), animação desenvolvida para o canal de desenhos Cartoon Network de 2007 até 2018. Os autores foram questionadas diversas vezes se Hora de Aventura tinha um quê de influências alucinógenas, mas ambos sempre negaram a teoria. A questão é que qualquer adulto que assistisse à série e soubesse por experiência como era o efeito de certas substâncias tinha quase certeza que havia, sim, um quê de lisergia. Com o lançamento de The Midnight Gospel em 2020, parece que foi uma forma dos criadores responderem às indagações passadas de um jeito óbvio, mas gentil – Midnight aborda o tema das drogas já no primeiro episódio, num papo aberto, profundo e destemido. 

Trussell é quem aparece no desenho como Clancy, um podcaster que viaja por vários mundos e entrevista seres dos mais variados tipos, sempre trazendo à conversa temas diversos e filosóficos. O bacana é que os personagens entrevistados são especialistas de verdade na vida real. Além disso, o contexto geral é embasado em crenças e ensinamentos espirituais que vão desde o budismo até o tarot e Nietzsche.

Com tanta informação condensada em apenas 20 minutos, o ideal mesmo é assistir cada episódio mais de uma vez, a fim de conseguir prestar atenção na maior quantidade de detalhes possível e absorver coisas diferentes. É uma ótima justificativa pra brisar um pouco mais.

TEXTO: ANNABEL GRIGNET

Redatora oficial do Cognição Eletrônica, jornalista inquieta, discente em Música pela UNILA e foliã na cena eletrônica da fronteira de Foz do Iguaçu.