Aos 10 anos de idade o inglês Rich NxT já estava profundamente envolvido com a música — um início precoce que já dizia muito sobre o seu futuro.
Ser um dos residentes originais da famosa label londrina FUSE, de Enzo Siragusa, foi primordial para mostrar seu talento ao mundo. Mas por trás da fama que possui hoje existe muita história para ser contada. Rich está no corre pela cena de Londres desde a metade dos anos 2000, onde tinha a fama de ser um dos maiores party-boys locais.
Trocamos uma ideia com o inglês e tentamos extrair para os nossos DJ’s um pouco do que ele aprendeu ao decorrer dessa longa caminhada.
No início de sua carreira você já tinha a habilidade de estar no lugar certo na hora certa, sempre presente nos afters, pronto para tocar. Conte um pouco sobre essa época.
Os after parties são uma parte importante no aprendizado de um DJ. A música é muito mais sutil, os sets são mais longos, a possibilidade de explorar seu repertório musical é maior. Você cria relacionamentos com outros DJ’s e músicos em uma atmosfera mais aberta e relaxante.
Em Londres nós costumávamos ir à festa de todos, de diferentes estilos de som e em diferentes locais. Não ficávamos presos a um único evento. Então Londres acabava sendo uma cidade com 24 horas de festa (hoje não tanto).
Se você levar os seus discos com você, com certeza há uma chance de botar eles para rodarem. O after também é o lugar onde você pode conhecer pessoas da indústria que podem lhe abrir novas portas, seja como DJ ou produtor.
Entre as diversas estratégias que você usou naquela época, quais você considera terem ajudado mais na sua vida profissional?
Mesmo tendo sido apenas o nosso jeito de ser, e não exatamente uma estratégia, fazer um esforço para apoiar nossos amigos e festas conhecidas acabou sendo uma coisa boa. Formamos relacionamentos fortes com vários núcleos diferentes, que foram para lados diferentes e que, com alguns deles, estamos nos reconectando agora.
Sempre que alguém me pede conselhos sobre como crescer na indústria, uma coisa que eu digo é para ir às festas e conhecer as pessoas. Não adianta ficar só mandando música por aí.
Sua esposa teve um papel importante na sua carreira, sempre ao seu lado te apoiando. Quão importante para um artista é ter alguém tão próximo assim e de que modo isso te impactou?
Nós sempre fizemos tudo juntos. Descobrimos esse tipo de música, festas e lugares juntos. Nós até divulgamos nossas primeiras festas juntos. Então, sim, sempre foi uma coisa compartilhada e sou muito grato por ter dividido isso com alguém!
Reunir pessoas é uma das muitas visões que temos em comum. Uma vez entramos em contato com vários núcleos que estavam fazendo ótimas festas e dissemos: “E aí, estão afim de fazermos algo juntos?”. A chamamos de “Get Together”, uma festa que contou com a participação de Jamie Jones, Geddes (Mulletover), Secret Sundaze e Trailer Trash. E realmente deu certo, foi um evento que entrou para a história.
Durante todos esses anos, tocando em vários tipos de rolês, você provavelmente já passou por algumas situações difíceis. Conte algo que ficou marcado em sua carreira e como você lidou com isso.
Bem, eu acho que seriam os problemas técnicos, como um mau retorno, agulhas zuadas ou problemas com CD’s e USB.
No ano passado, na Sash em Sydney, o retorno do DJ parou e demorou um pouco para voltar. Na verdade, no final acabou virando algo a meu favor — Adam Shelton, que tocaria depois de mim, disse que iria esperar até que o retorno voltasse a funcionar. Eu conseguia tocar sem o retorno, já que estava acostumado com o som e a ambientação do local, então pude finalizar o meu set bem no nascer do sol.
Também teve um caso durante uma rave da FUSE London que, por conta da festa ter sido em um galpão abandonado, o local estava tão quente que o suor das pessoas chegava a pingar do teto! Então tivemos que nos revezar segurando uns guarda-chuvas para impedir que as gotas caíssem em cima dos decks.
Comparando a cena atual de Londres com a do início dos anos 2000, quais são as principais mudanças (positivas e negativas) que você vê e como imagina o futuro?
Como eu comentei antes, não é mais uma cena “24 horas” e tão fácil como já foi. Perdemos muitos locais por conta do aumento de propriedades e muitas licenças devido às regulamentações do conselho e seus problemas de licenciamento. Isso levou a um declínio nos clubes de médio porte, podendo até dificultar o crescimento da vida noturna, já que há uma grande lacuna entre os locais de 200/300 pessoas e os de 2.000/3.000 pessoas.
Ao mesmo tempo, temos visto um aumento significativo na quantidade de músicas de fácil acesso, com jovens produtores conseguindo publicar suas tracks rapidamente, direto no coração da indústria.
Então, contanto que possamos manter ativos locais seguros e de todos os portes, poderemos deixar essa nova geração musical contar sua história, da mesma forma que contamos a nossa.
O Minimal e o Deep Tech estão cada vez mais populares aqui no Brasil. O que você sabe (ou já ouviu falar) sobre nossa cena e nossos artistas?
Sou amigo do Cesare vs. Disorder (fundador da Serialism) há muitos anos, desde a época em que ele morava em Londres, tocamos juntos muitas vezes e sempre mantivemos contato. Quenum, sempre o acompanhei, desde o tempo que lançou o Cadenza com o Luciano.
Eu sempre ouvi coisas boas sobre os clubes e sobre as músicas brasileiras, então é empolgante poder ver e ouvir de perto os artistas que movimentam essa cena noturna.
O anúncio da sua participação na Serialism São Paulo foi muito bem recebido pelo público. Já fazia parte dos seus planos estrear no Brasil?
Eu acho que por conta da minha amizade com Cesare uma hora isso iria rolar. Essa visita também será especial porque, por diversas vezes, não consigo ficar por muito tempo em uma única cidade. Dessa vez terei minha família comigo por 5 dias, o que é muito bom e raro de acontecer.
Esta é para aqueles que sonham um dia fazer parte da sua label: Quais são os principais fatores que você analisa ao escolher uma faixa a ser lançada pela NxT Records?
Eu sei se uma track será boa para a minha label ao ouví-la por, acho que, 4 ou 5 segundos. Há muita música por aí e a variedade é incrível, então eu acabo ouvindo muita coisa que pode não ser apropriada para a minha gravadora, mas pode ser para outra.
O que geralmente me ganha é a originalidade e um bom hook (gancho) na track. Esses quesitos são importantes, mas também precisa ter um bom groove e a sonoridade certa. Sem forçar demais, mas ainda soando legal e inteligente.
Antes de terminarmos. Compartilhe com o nosso público o conselho mais valioso que você já recebeu, como DJ.
Seja paciente. Um dia você vai chegar onde você quer estar.
–