PRODUÇÃO DE FESTAS #1 – A ROTINA DE UM PRODUTOR
Dicas & Guias
O TRAMPO POR TRÁS DA DIVERSÃO
Muita gente acha que produzir festas é puro glamour e diversão. Mas, a realidade é bem outra. Por mais que para quem veja de fora pareça incrível ostentar um crachá e ter acesso ao backstage, para quem está “da grade pra lá”, é necessário muito preparo físico e mental.
O produtor é um ser humano que trabalha quando ninguém está trabalhando e que não se diverte quando todos estão se divertindo. São meses fazendo orçamentos e ajustando quantidades para chegar no melhor custo-benefício. Afinal, as festas trabalham sempre “no fio na navalha”.
É muito complicado fechar a conta, a matemática é bem apertada. E cuidar desta matemática é uma das principais funções do produtor — o mestre matemático do glamour. Essa gestão financeira gera uma pressão constante nas costas do produtor. Muitas vezes, vamos dormir pensando se não estamos errando em alguma coisa, se não está faltando nada. Muitas vezes, acordamos no meio da noite e lembramos “Meu Deus, eu fechei os extintores?”. Qualquer erro do produtor pode gerar consequências muito graves para o resultado final da festa.
#PARTIUMONTAGEM
Estando tudo contratado, chega a hora de montar a festa e, com isso, uma nova etapa de perrengues. Tudo tem que acontecer na hora certa para que a festa fique pronta dentro do prazo, porque claro, sempre temos pouco tempo para montar (afinal, tempo é dinheiro), e cada dia de montagem custa uma diária extra de locação do espaço. Por conta disso, costumamos ter apenas 1 dia para montar “uma” festa.
Nessa correria da montagem, muitas vezes não conseguimos comer direito. Às vezes, o banheiro que temos para usar é o próprio banheiro químico da festa. Em outras, temos que usar o banheiro do bar da esquina.
Acontece muito de virarmos a noite da véspera do evento testando a luz e finalizando algumas coisas, portanto, já amanhecemos no dia da festa, sem dormir ou comer adequadamente — sim, é muito glamour!
NOITE DO BAILE, TUDO OK?
Quando dá, você corre para casa, toma um banho e volta cheiroso. Mas muitas vezes, não dá. Então você só troca de roupa, passa um desodorante e segue o jogo. Chegando a hora da festa, você anda, anda e anda pra ver se está tudo bem, se está tudo no lugar. Estando tudo pronto, bora abrir. #frionabarriga.
“DJ tocando, equipe de bar posicionada, cerveja gelada, seguranças em seus postos, equipe de porta pronta — Produção, copia? Vamos abrir!”
As pessoas começam a entrar e você, mais uma vez, vai fazer a ronda pra ver se está tudo ok. Às vezes, nesse momento é possível descansar um pouco. Se tiver uma sala de produção e tudo estiver bem, nessa hora você senta, bebe uma água, respira. Coisa rápida, porque o baile já vai começar a encher e você já vai ter que voltar para a ronda.
“DJ ok, som ok, bar ok, banheiros ok, fila de entrada ok. Ufa!”
Mas claro, nem sempre está tudo ok. O som às vezes “dá pau”, eventualmente (apesar de raro), o gerador pode cair, e lá vai você entender o que aconteceu. Se o bar encher demais, lá vai você ver se tem pouca gente atendendo, se é só um momento de boom, se é melhor chamar mais profissionais… #tensão
Se perceber que os banheiros estão com fila, lá vai você ter crise… “Será que contratei poucos banheiros?”, “O masculino está vazio, será que deveria ser unissex?”.
E segue a ronda: “DJ ok, som ok, bar ok, banheiros ok… Eita que tá uma puta fila na porta!”. Lá vai você entender “Por que, meu Deus, por que? Eu calculei tudo, era pra estar dando vazão!”.
A porta, com frequência, é o pior lugar. Lá você sempre pode encontrar o cliente folgado e mal-educado que vai ver sua credencial e te dizer “Sabe quem eu sou?”, e você educadamente diz “Amigo, a fila está andando, tenha só um pouquinho de paciência”. Você, que já não dormiu bem, já não comeu direito, e está tenso há dias, tem que ter muito preparo emocional para lidar com os inconvenientes da fila — e infelizmente, toda fila tem sempre sua cota de inconvenientes. É amigo do DJ que o DJ nunca ouviu falar o nome, é primo de 2º grau do João da produção (sendo que não tem nenhum João na produção), é aniversariante sem RG, é influenciador com muitos seguidores. Olha… haja paciência!
Melhor fazer mais uma ronda: “DJ ok, som ok, bar ok, banheiros ok”.
E não da para baixar a guarda, porque a qualquer momento, quando menos se espera, algum imprevisto pode rolar, e o produtor tem que estar por lá para resolver. Chega uma hora você está chapado sem usar nada. É um misto de sono, cansaço e euforia.
Começa então o amanhecer. É sempre um momento tenso. Fim de festa, a galera no “auge” e você, caindo de sono e cansaço, tendo que manter-se alerta.
Chega a hora programada para a festa acabar. Sua guarda começa a baixar um pouco. Imaginando sua cama e seu merecido descanso, você se aproxima do DJ, faz aquele sinal com as duas mãos espalmadas e sobrepostas se abrindo no clássico gesto de FIM, ele/ela olha pra você e diz: “Conseguimos ficar mais 1 hora?” E você pensa; “Meu Deus, eu consigo?”. E Deus responde: “Claro que consegue!”. Então você fala para o DJ: “Ok, mais 1 hora!”
Essa 1 hora, muitas vezes, dura uns 3 ou 4 dias. Mas ela passa, e lá vai você de novo gesticular: “Game over!”. Pode ser que acabe, pode ser que não. O que fala o alvará? Se você já estiver no horário de término da liberação, este será seu melhor amigo nesta manhã, então você diz “Por mim a gente seguia (aham), mas já estouramos o horário permitido!”.
Caso o local te permita seguir, a jornada matinal vai depender de muitos fatores: Animação do DJ, animação da galera, staff de bar e seguranças disponíveis para esticar o horário.
FIM DE FESTA
Mas uma hora a festa acaba e aí sim, finalmente, sua missão está cumprida, porém, não encerrada.
Passada a festança, ainda vem a tão amada desmontagem. Em geral, contratamos uma equipe que chega nesse período da manhã para desmontar tudo, e que não esteja delirando de sono igual você e sua equipe. Ainda assim, é o produtor quem tem de coordenar o início desta desmontagem para que tudo ocorra bem.
Depois disso, aí sim sua missão está cumprida e encerrada. E assim, 48 horas depois de ter acordado pela última vez, atordoado de sono e suado, você segue com seu crachá e todo o glamour da produção para sua casa. Óbvio que não sem pensar em algum momento: “Meu Deus, eu guardei o luminoso do bar?”. Liga lá, pergunta se o luminoso está guardado e finalmente vai dormir. Sua cama parece uma miragem, mas ela existe! Você se deita, olha para o teto e percebe que o sono passou… mas o corpo esta tão cansado que e em minutos, você não dorme, você desmaia — exausto, mas cheio de glamour.